"Devemos resgatar um exemplo bíblico que ilustra com radicalidade o significado profundo da morte. A cruz e a morte experimentada nela por Jesus não foram acidentes de percurso"
“Tanto a
ciência quanto a religião, cada uma a seu modo e no seu lugar, devem nos ajudar
a viver e, por consequência disso, nos ajudar a morrer, também, com mais
coragem e com maior dignidade! Isso porque a morte é consequência da vida. Ou,
de outra forma, a morte é parte integrante da vida. Vida e morte são uma linha
de continuidade. A morte não pode ser encarada como um ponto ao fim da vida.
Isso faz dela uma tragédia sobre a qual a vida perde seu significado. A morte,
ao contrário, cria a expectativa da realidade. Como não temos todo o tempo ao
nosso dispor, e como não sabemos a hora de nossa morte, cada instante de vida
adquire um status plenamente original: é o único que dispomos. Ou o gozamos
bem, ou corremos o risco de jogar tudo fora!
Assim,
morrer é uma tarefa que se constrói vivendo. A exemplo do que ocorre com a
natureza – na medida que começamos a morrer no dia que nascemos, dada a
provisoriedade dos sistemas vitais do corpo humano – importa-nos afinar nossa
conduta de modo que cada dia vivido seja experimentado com a possibilidade de
ter sido o último, sem que haja necessidade de um seguinte para corrigir alguma
coisa. Quando isso ocorre, a morte ganha outra conotação: deixa de ser uma
tragédia inevitável que nos toma de surpresa, e passa a ser uma amiga de todos
os dias que nos lembra da fragilidade da vida e da importância de sua
experiência radical, tanto no aspecto pessoal, como nas questões de natureza
convivial.
Nesse
sentido, a morte dos outros pode nos ajudar a morrer melhor! Os que amamos e já
se foram podem nos servir de alerta sobre a provisoriedade da existência e,
dessa forma, contribuir para que ousemos viver com mais radicalidade. Que bom
seria se pudéssemos desde bem cedo enxergar a morte dessa forma e com ela nos relacionarmos
sem muitos traumas. Seríamos mais sensatos e mais corajosos! Os mortos não
podem ser relegados ao esquecimento dos CTIs, dos necrotérios e dos cemitérios.
Precisam fazer parte de nós e conosco conviverem. Não numa relação de luto
constante que deprime e impede a vida, mas como alimento antropofágico que nos
dá força e ressignifica nossa existência.
Por fim,
devemos resgatar um exemplo bíblico que ilustra com radicalidade o significado
profundo da morte. A cruz e a morte experimentada nela por Jesus não foram
acidentes de percurso. A morte de Jesus de Nazaré foi consequência de sua vida.
Sua intransigente opção pelo bem e pelo amor o fizeram ter de encarar as
ameaças da cruz. Como não recuou um milímetro em sua opção, a morte levantou-se
como inevitável e é exatamente nesse sentido que a morte passou a fazer parte
de sua vida; e, mais ainda, a morte deixou de ser fim e passou a ser
inauguração de uma nova dimensão da caminhada: a ressurreição.
O Cristo
ressuscitado é o mesmo Jesus crucificado; carrega as mesmas chagas. A vida,
porém, ascendeu a um novo patamar onde as fronteiras entre vida e morte ruíram
e um Ser Humano novo, recriado, passou a viver plenamente!
É isso
– Tempus Fugit! Carpe diem!”
Prof. R.
Lengruber
Ótima reflexão!
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